terça-feira, 5 de junho de 2012

Rock De Agência


Entre 23 de setembro e 2 de outubro de 2011, roqueiros de diversos gostos, visuais e lugares tomaram a Cidade do Rock, no Rio da Janeiro, para acompanhar o Rock in Rio daquele ano, num evento que movimentou milhares de pessoas (700 mil assistiram aos 7 dias de shows, de acordo com a organização) e milhões de reais (R$ 100 milhões em investimento). Entre outras bandas, tocaram Metallica, Capital Inicial, Slipknot, Katy Perry, Elton John e Coldplay. Além do atrativo de juntar uma série de estrelas da música nacional e internacional, o festival voltou a acontecer em terras brasileiras após 10 anos em Lisboa e Madrid – e, a organização já prometeu, ano que vem tem mais.

Mas... como começou tudo isso? Muita gente sabe que o início foi lá nos idos de 1985, com uma idéia maluca do publicitário Roberto Medina de organizar um festival com várias bandas e uma estrutura gigantesca – loucura para uma época economicamente psicodélica, num país em que shows internacionais costumavam terminar com roubo de equipamentos e calote de cachês. Porém, pouco se falou até hoje sobre os caminhos que levaram Queen, AC/DC, Ozzy Osbourne, Scorpions e outros grupos consagrados do rock a dar uns acordes por aqui. É o que Cid Castro faz em
Metendo O Pé Na Lama.

Cid escreveu
Metendo... com um olhar de dentro da organização. Publicitário, trabalhava na Artplan (agência de publicidade de Medina, organizadora do Rock in Rio 1) quando o festival dos “11 dias de paz e música” aconteceu. Participou ativamente de todo processo – é dele o famoso logo (um mundo azul-claro com um continente-guitarra em forma da América do Sul), o que não o impediu de ralar nos bastidores e na produção geral.

No livro, Cid vai costurando os caminhos do antes, do durante e do depois do festival que ajudou a profissionalizar o showbizz brasileiro: a descrença inicial, as dificuldades em atrair patrocínios e bandas, a produção em si, os chiliques e as frescuras dos artistas e algumas excentricidades - por exemplo, o original aquecimento que os músicos do Scorpions faziam, correndo do camarim até o palco, exatamente como recomendava o personal trainner
deles, numa típica demonstração de disciplina alemã.

Aspectos da vida pessoal do autor também são abordados. Hoje trabalhando como publicitário free lancer
na Europa, Cid conta o começo de carreira e os perrengues pelos quais passou, como quando morou num “apertamento” na companhia de uma gata que mais rosnava que miava; sua chegada a uma grande agência; e todas as dores e delícias que cercavam a Artplan naquela época. Também fala do prazer que foi trabalhar com rock, seu estilo musical preferido na adolescência.

Embora os palavrões escancarados possam gerar uma certa estranheza – de certo o autor tenha pretendido levar um pouco do ambiente solto do rock e das agências de publicidade – o livro vale para se conferir como começou um dos maiores empreendimentos da indústria do entretenimento feitos até hoje. Importante considerar que não se trata de uma reportagem sobre o festival – o livro foi escrito baseado nas memórias de Cid, o que não diminui o aspecto curioso da obra. Bom registro de um dos capítulos mais importantes do rock brasilis.

 
Título: Metendo O Pé Na Lama
Autor: Cid Castro
Editora: Tinta Negra
Páginas: 264
Preço médio: R$ 39,90

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