terça-feira, 14 de agosto de 2012

Fala De Mestre


O que aconteceria se estivessem juntos, bem pertinho um do outro, Nelson Rodrigues, Millôr Fernandes, Henfil, Pelé, Joel Silveira, Ivan Lessa e João Saldanha? Simples: talento jorrando pra todo lado. O melhor é que isso já acontece, no (incompreensivelmente) pouco falado site do jornalista Geneton Morais Neto.

Em 2008, para um trabalho de faculdade, tive a honra de fazer uma breve entrevista com Geneton sobre o www.geneton.com.br – fundamental para quem quer conhecer personagens fantásticos de um ângulo original. Bom, quando um mestre fala é bom prestar atenção. Então...

Como o senhor teve a idéia de criar este site?
O site é apenas uma maneira de expor e tornar acessíveis entrevistas e reportagens que, de outra maneira, estariam "mofando" nos arquivos. Não é um blog, porque não tenho tempo (nem disposição) para um exercício de atualização diária. Mas pode ser útil para eventuais internautas que estejam em busca de informações sobre nomes como Paulo Francis, Joel Silveira, Ivan Lessa e tantos outros.

Não há propagandas nele. O senhor o “sustenta” com sua própria grana?
O custo é irrisório. De três em três meses, pago uma taxa pela hospedagem do site. É esta uma das vantagens da revolução provocada pela Internet: hoje, é possível publicar sem gastar. É como se cada um pudesse ser dono de um jornal.

Nunca houve reclamação pelo fato de o site ter matérias tão longas, com pouquíssimas fotos, como a entrevista com o Nelson Rodrigues, que tem 40 mil caracteres?
Não. Os textos não foram feitos para a internet. A entrevista com Nélson Rodrigues, por exemplo, é um capítulo de um livro que publiquei há anos. Além de tudo, o espaço na Internet é livre. Em tese, não há limites. O único limite é ditado pela paciência e pela disposição dos eventuais leitores.
Além de ninguém meter o bedelho, quais são as outras vantagens de se escrever num site?
A grande e insubstituível vantagem é o fato de que, na internet, um repórter pode publicar suas entrevistas e reportagens sem interferência de "alienígenas" - entre eles, os editores, com suas temíveis tesouras.

O senhor acredita que a internet vai um dia substituir o papel?
De início, eu achava que não. Mas hoje tenho minhas dúvidas. É provável que os jornais de papel sobrevivam, mas com outro espírito. Não podem continuar publicando na primeira página, como se fossem novidades, notícias que o leitor já conhece desde a véspera.

Quanto tempo o senhor acredita que o jornal de embrulhar peixe vai durar? E as revistas?
Tanto os jornais como as revistas sobreviverão, mas serão consumidos, acho, por uma faixa específica de leitores. As multidões frequentarão os sites.

Seu site é licenciado pelo esquema de Criative Commons. Muita gente já o usou para alguma coisa?
Para dizer a verdade, não tenho idéia. Aliás, eu nem sabia que o site era licenciado! A única utilidade do site, acho, é a de matar a curiosidade de eventuais visitantes sobre as grandes figuras que entrevistei. Também pode servir como passatempo para quem esteja com insônia.

O senhor nunca pensou em transformar o geneton.com.br num site multimídia, com, por exemplo, trechos de vídeos?
Adiante, pode ser. Por ora, o geneton.com.br cumpre o papel que lhe cabe: é um site simples, feito por uma pessoa nas (poucas) horas vagas. Nasceu para ser um "armazém" de textos. As portas estão abertas para os fregueses. Resta-me torcer para que as visitas não saiam decepcionadas.

 Geneton e Joel Silveira: a Terra deve ter parado de girar  
para assistir a este encontro...

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Viagem Fora Dos Cartões Postais


Ruy Castro é, como todo bom jornalista, um curioso fanático. Ele também gosta de viajar. Então, ele junta esses dois prazeres para descobrir o que os cartões postais e os guias de turismo não conseguem mostrar. Sobre o mundo todo e sobre o Rio de Janeiro que ele adotou, ele gosta dos becos, das histórias ocultas, do não óbvio.

E por que não juntar essas histórias em livro? Foi o que ele fez em Terramarear, coletânea de relatos das experiências vividas por ele e por sua namorada, a escritora Heloísa Seixas, mundo afora. Os textos foram escritos em diversas épocas, mostrando o que acontecia nos lugares naqueles momentos. Exemplo disso são os artigos de Ruy para o jornal Estado de S.Paulo quando do bicentenário da Revolução Francesa – ele estava lá e acompanhou toda comemoração, e como a política brasileira fez sua marcante (e custosa) presença no evento.

Os países são o de sempre – Estados Unidos, França, Itália, Alemanha, Portugal –, o que não tira o encanto do livro, pois as histórias mostram o “subsolo”, o que não costuma ganhar foco. Conta a relação de lugares com a arte, onde foram gravadas algumas cenas de cinema, onde ter aventuras gastronômicas e o faro de Ruy para achar o que parece inachável. Os textos de Heloísa tem menos graça, mas vale sua experiência na “terrível e sombria” União Soviética comunista.

Também ganha um pedaço partes do Rio que as pessoas não prestam atenção. Nele, estão o nascer do sol de Copacabana; o verão, a estação hedonista, e que ganha personalidade naquela cidade; a arte arquitetônica de lá.

O livro deixa a seguinte torcida: quem sabe um dia Ruy não faça um livro falando de lugares curiosos da Letônia, uma cena gravada na Malásia, uma visita inusitada de um artista em Belize. Para um país como o Brasil, que no momento acostuma-se a ficar na crista da onda, seria interessante e importante conhecer países fora do eixo EUA-Europa Ocidental pelos olhos de um jornalista competente e com curiosidade de barata.

 
Título: Terramarear
Autores: Ruy Castro e Heloísa Seixas
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 232
Preço médio: R$ 42