domingo, 27 de maio de 2012

Happy Hour Geração Y


Nada de ovos coloridos: a vida nos botecos agora tem sabor especial

Dia 22 de fevereiro de 2011. Internazionale de Milão e Bayern de Munique jogam a partida de ida das oitavas de final da Liga dos Campeões da Europa. O jogo tem vários temperos: é uma repetição da final passada, em que a Inter bateu o time alemão por 2 a 0; são dois timaços – Eto'o, Milito, Sneider e Júlio César de um lado, Robben, Gomez e Schweinsteiger do outro; e é o confronto de dois dos times mais importantes do mundo.

Um belo programa para se ver em casa. Mas, que tal assistir à partida num boteco? “No trabalho seria uma correria e em casa não tem muita graça. Aproveitei o tempo livre para ver o jogo aqui”, diz o consultor econômico Alfredo Bastia Junior, que assistiu à partida acompanhado de uma porção de bolinho de bacalhau. “É muito mais legal ver aqui. Só o bolinho já é suficiente para dar um gosto especial ao futebol”.

Esse “aqui” de que Alfredo fala é o Boteco São Bento, no bairro do Itaim. Inaugurado em 2007, faz sucesso desde o início. Com três ambientes, um deles ao ar livre, é enfeitado ao centro com duas árvores. Como todo boteco, é aberto, sem portarias ou entradas. “Dificilmente você encontra um dia sem bom movimento”, diz Christian Palmute, da área de marketing do boteco.

O lugar é frequentado basicamente por jovens querendo azarar, famílias curtindo um dia de folga, pessoas que precisam relaxar depois de um dia estafante de trabalho. E, claro, gente que gosta de futebol. “Os dias de jogos aqui são bem movimentados. A galera torce como se estivesse na arquibancada, especialmente em dia de jogo com time paulista”, garante Samuel Oliveira, o ocupado gerente de operações do lugar.

O São Bento é um exemplo da nova geração de botecos há alguns anos presente nas grandes cidades. Sem o rigor comportamental do restaurante e sem a zoeira do bar, os botecos vêm ganhando a simpatia dos que gostam de curtir um happy hour.

Não tem música alta repetitiva nem luzes piscando irritantemente, assim a conversa flui mais fácil. Alguns têm sinuca e musiquinha ambiente, o que torna o ambiente mais agradável. De vez em quando rola um jogo na tv... Ah, cara, nem se compara”. É o que diz Rafael Montenegro, assistente administrativo, quando perguntado por que o boteco é o melhor lugar para se divertir. “Toda sexta-feira estou lá. Só não vou se estiver muito ocupado ou doente de cama”.

Já Rodolfo Pazanelli destaca os comes e bebes: “A bebida nos botecos é mais barata, e a comida costuma ser maravilhosa”. Outra característica dos novos botecos: o ovo colorido na estufa e a salsicha nadando no molho deram lugar a pratos elaborados, cuidadosamente preparados para fazer valer a pena uma esticadinha antes da volta para casa.

O São Bento, por exemplo, oferece cerca de 50 pratos, desde as tradicionais porções até refeições completas. A Costela do Pecado, um dos mais pedidos, vem com a costela assada lentamente, em papel alumínio, temperada com sal e condimentos, junto com mandioca frita e salsinha jogada por cima. Um estrondo. Assada assim, a gordura combina com a carne e não dá a sensação de que se está comendo carne com sebo.

Claro, num bom boteco não pode faltar o bolinho de bacalhau, feito com batata do tipo Asterix (aquela de casca rosada, mais seca do que as tradicionais), azeite, bacalhau dessalgado e desfiado, alho, pimenta do reino e salsinha a gosto. Um picadinho também cai bem: 1 kg de alcatra ou coxão mole em cubinho de 3 cm, cebola, alho, tomate, folhas de louro, pimenta-do-reino, salsinha e cebolinha – além do pãozinho que, no fim, será traçado com o molho que sobra.

Também não se pode esquecer das bebidas. A caipirinha de uva itália, roxa, terrivelmente atraente, com cachaça, pedaços de lichia e picolé de uva. A Bronzeado: vermelha, leva framboesa, abacaxi, lichia e picolé de lichia. E a de manga, que leva a fruta, picolé da fruta e um ingrediente curioso: pimenta dedo de moça. Ainda assim, é refrescante.

Em alguns lugares, as guloseimas são complementadas com música ao vivo. É o caso do Dona Flor, em Moema. Todo dia, bandas de diferentes estilos musicais – pop, rock, MPB, samba – se revezam para levar aos clientes, além de gostos, ambientes diversos. Num dia você vai e come bolinho de bacalhau ouvindo músicas de Caetano Veloso. No outro, manda ver um picadinho ao som de Capital Inicial.

Há quem substitua baladas por noites inteiras no boteco. “Numa boite a chance de encarar um bêbado vomitando no seu pé é grande. No boteco, isso raramente acontece”, comenta o publicitário Leandro Nunes. No máximo, você pode ficar chateado com o erro de um jogador brasileiro – foi o que aconteceu no jogo da Liga, quando, aos 45 do segundo tempo, o goleiro da Inter Júlio César rebateu uma bola no pé do atacante Mário Gomez. O Bayern venceu por 1 a 0. Mas ainda tem o segundo jogo. Vai ser com bolinho de bacalhau de novo?


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