Biografias
de jornalistas são sempre bem vindas – porque também somos
pessoas; porque jornalistas também podem ter boas histórias; porque
conhecer como e quem faz jornalismo ajuda a todos a entender esse
ofício tão importante. E, quando se tem um verdadeiro personagem
dessa profissão, aí a pena vale o dobro.
É
o caso de Tarso de Castro, que teve a sua vida colocada em papel em
75 kg de Músculo e Fúria, do jornalista Tom Cardoso. Ideia oportuna
essa a de registrar a vida de um dos fundadores d'O Pasquim. E ele
tinha de participar mesmo da fundação da mais anárquica das
publicações. Tarso era um indomável, sobretudo quando o assunto
era bebida, mulheres, irreverência – e qualidade para escrever.
Quanto
à bebida, não teve culpa – começou a tomar umas por questões
profissionais, ainda na época em que trabalhava no jornal do pai, no
Rio Grande do Sul. Quanto à irreverência, compensava as loucuras
que fazia com sagacidade e inteligência – hilário saber que, na
sua passagem pela Folha de S.Paulo, dava expediente nos bares
próximos, e só voltava à redação se Lilian Pacce, hoje
entendedora de moda, fosse buscá-lo. Merece atenção também sua
participação na música “Detalhes”, aquela mesmo, do rei...
Como
revés, apenas alguns piolhos na revisão de conteúdo – há no
livro, três vezes em páginas próximas, a informação de que
Leonel Brizola era cunhado do presidente golpeado João Goulart –
mas nada que atrapalhe a leitura. Nele, você vai conhecer um
jornalista que fazia jornalismo com vermelho (de sangue de repórter)
e o cristalino (dos etílicos).
O
Levi
Dosan fez três perguntas para o autor, Tom
Cardoso:
Como
surgiu a ideia de fazer a biografia do Tarso de Castro?
Meu
pai, Jary Cardoso, atualmente editor de Opinião do jornal A Tarde,
em Salvador, trabalhou com o Tarso em duas publicações: JA e
Folhetim. Meu pai tinha vontade de escrever um livro sobre imprensa
alternativa e, tarsista de carteirinha, fazer justiça ao personagem
Tarso de Castro, o verdadeiro criador d'O Pasquim, que hoje não é
nem citado nas matérias especiais sobre o jornal. Ouvindo meu pai
falar sobre a importância de Tarso, o estilo passional, o sucesso
com as mulheres, a coragem e o atrevimento etc., não tive dúvida
que a vida do cara valia um livro. Meu pai me entregou uma caixa com
todas as publicações editadas pelo Tarso, li tudo e comecei as
entrevistas. Terminei tudo em um ano.
A
imagem que se tinha dele, e que já não era tão conhecida, era a de
um jornalista porralouca, um incontrolável. Você acredita que esse
estereótipo acabou depois do livro?
O
Tarso, apesar da porralouquice, era um fazedor de coisas, e fazer
jornalismo durante o regime militar não era para qualquer um. A
porralouquice fez d'O Pasquim o jornal que foi, aberto a todos os
movimentos. Se não fosse pelo Tarso, diretor de redação, O Pasquim
não teria a mesma força, nem o mesmo tom libertário. Se dependesse
do Millor, do Ziraldo e do Francis, as grandes entrevistas (Flávio
Cavalcanti, Roberto Carlos, Leila Diniz) nem existiriam. É claro que
o estilo do Tarso, o indomável, o perdulário, também contribuiu
para que os jornais não sobrevivessem por muito tempo ou que ele (no
caso d'O Pasquim e da Folha) acabasse expulso pelos desafetos. A
Folha, por exemplo, perdeu muito com a saída dele.
Por
que o Millor Fernandes não quis falar sobre Tarso?
Eu
queria fazer uma biografia passional, no estilo Tarso. O meu livro é
um livro a favor do Tarso, não é um livro de manual, não tem o
“outro lado”, tanto que mandei um faz para a casa do Millor,
pedindo a entrevista, ele não respondeu e eu não insisti. O Millor
já tem uma legião de bajuladores, e o Tarso estava esquecido. E ele
teve, sim, uma atitude covarde durante o episódio da prisão do
pessoal d'O Pasquim. Os que defendem dizem que ele escreveu todo o
jornal enquanto os outros estavam presos, mas o cara escreveu e não
foi incomodado. Todo mundo sabia o endereço do Millor. E por que
ninguém bateu na sua porta? No mínimo estranho...
Título:
75 kg de Músculo e Fúria
Autor:
Tom Cardoso
Editora:
Planeta
Páginas:
280
Preço
médio: R$ 44,90
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