terça-feira, 10 de julho de 2012

O Vermelho E O Cristalino


Biografias de jornalistas são sempre bem vindas – porque também somos pessoas; porque jornalistas também podem ter boas histórias; porque conhecer como e quem faz jornalismo ajuda a todos a entender esse ofício tão importante. E, quando se tem um verdadeiro personagem dessa profissão, aí a pena vale o dobro.

É o caso de Tarso de Castro, que teve a sua vida colocada em papel em 75 kg de Músculo e Fúria, do jornalista Tom Cardoso. Ideia oportuna essa a de registrar a vida de um dos fundadores d'O Pasquim. E ele tinha de participar mesmo da fundação da mais anárquica das publicações. Tarso era um indomável, sobretudo quando o assunto era bebida, mulheres, irreverência – e qualidade para escrever.

Quanto à bebida, não teve culpa – começou a tomar umas por questões profissionais, ainda na época em que trabalhava no jornal do pai, no Rio Grande do Sul. Quanto à irreverência, compensava as loucuras que fazia com sagacidade e inteligência – hilário saber que, na sua passagem pela Folha de S.Paulo, dava expediente nos bares próximos, e só voltava à redação se Lilian Pacce, hoje entendedora de moda, fosse buscá-lo. Merece atenção também sua participação na música “Detalhes”, aquela mesmo, do rei...

Como revés, apenas alguns piolhos na revisão de conteúdo – há no livro, três vezes em páginas próximas, a informação de que Leonel Brizola era cunhado do presidente golpeado João Goulart – mas nada que atrapalhe a leitura. Nele, você vai conhecer um jornalista que fazia jornalismo com vermelho (de sangue de repórter) e o cristalino (dos etílicos).

O Levi Dosan fez três perguntas para o autor, Tom Cardoso:

Como surgiu a ideia de fazer a biografia do Tarso de Castro?
Meu pai, Jary Cardoso, atualmente editor de Opinião do jornal A Tarde, em Salvador, trabalhou com o Tarso em duas publicações: JA e Folhetim. Meu pai tinha vontade de escrever um livro sobre imprensa alternativa e, tarsista de carteirinha, fazer justiça ao personagem Tarso de Castro, o verdadeiro criador d'O Pasquim, que hoje não é nem citado nas matérias especiais sobre o jornal. Ouvindo meu pai falar sobre a importância de Tarso, o estilo passional, o sucesso com as mulheres, a coragem e o atrevimento etc., não tive dúvida que a vida do cara valia um livro. Meu pai me entregou uma caixa com todas as publicações editadas pelo Tarso, li tudo e comecei as entrevistas. Terminei tudo em um ano.

A imagem que se tinha dele, e que já não era tão conhecida, era a de um jornalista porralouca, um incontrolável. Você acredita que esse estereótipo acabou depois do livro?
O Tarso, apesar da porralouquice, era um fazedor de coisas, e fazer jornalismo durante o regime militar não era para qualquer um. A porralouquice fez d'O Pasquim o jornal que foi, aberto a todos os movimentos. Se não fosse pelo Tarso, diretor de redação, O Pasquim não teria a mesma força, nem o mesmo tom libertário. Se dependesse do Millor, do Ziraldo e do Francis, as grandes entrevistas (Flávio Cavalcanti, Roberto Carlos, Leila Diniz) nem existiriam. É claro que o estilo do Tarso, o indomável, o perdulário, também contribuiu para que os jornais não sobrevivessem por muito tempo ou que ele (no caso d'O Pasquim e da Folha) acabasse expulso pelos desafetos. A Folha, por exemplo, perdeu muito com a saída dele.

Por que o Millor Fernandes não quis falar sobre Tarso?
Eu queria fazer uma biografia passional, no estilo Tarso. O meu livro é um livro a favor do Tarso, não é um livro de manual, não tem o “outro lado”, tanto que mandei um faz para a casa do Millor, pedindo a entrevista, ele não respondeu e eu não insisti. O Millor já tem uma legião de bajuladores, e o Tarso estava esquecido. E ele teve, sim, uma atitude covarde durante o episódio da prisão do pessoal d'O Pasquim. Os que defendem dizem que ele escreveu todo o jornal enquanto os outros estavam presos, mas o cara escreveu e não foi incomodado. Todo mundo sabia o endereço do Millor. E por que ninguém bateu na sua porta? No mínimo estranho...

 

Título: 75 kg de Músculo e Fúria
Autor: Tom Cardoso
Editora: Planeta
Páginas: 280
Preço médio: R$ 44,90

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